Os anos Oitenta não foram o início de nossa história, mas é o marco principal para entender quem somos e d'onde brotam nossas forças. O antigo observatório de estrelas tem sido o repouso das/dos jovens indignados que se permitem vislumbrar outro mundo, outros caminhos até hoje. Poderia reverenciar as vitórias e inspirações dos que vieram antes de mim. No entanto, permitam-nos contar as histórias que, por vezes, apenas os documentos guardados na sede do D.A. de Comunicação revelam. 

Vindo de uma trajetória clandestina na ditadura militar, pós fechamento da entidade, os documentos contidos nos Arquivos iniciam com a ata de posse de 1980, registro da primeira gestão oficial do Centro Acadêmico com o fim da repressão. Dentre os componentes, figuram-se Márcia Vidal e Luis-Sergio - Hoje docentes da Universidade Federal do Ceará. 

A reabertura da representação estudantil foi marcada pelo batismo, agora com o codnome Tristão de Athayde. Pseudônimo de Alceu Amoroso nas publicações jornalísticas questionando direitos humanos durante a ditadura militar, foi personagem reconhecido pelo conjunto de estudantes de comunicação cearense. Dentre a troca de correspondências entre o Movimento Estudantil e Alceu, o afeto e esmero é comum. 



Carta do Tristão ao Centro Acadêmico

No dia 01 de outubro, a sede do Diretório Central dos Estudantes da UFC foi bombardeado por grupos de direita a fim de inviabilizar o processo eleitoral corrente na entidade. O ato, segundo nota do C.A, "é parte de um esquema para impedir que as lutas democráticas sofram descontinuidade e o temor venha a fazer parte do cotidiano no Ceará". 

Um ano de muitas idas e vindas na rearticulação de um movimento que pretendia virar a Universidade do avesso por mais direitos. O embrião do que somos hoje, poderia ter sido o berço do primeiro ENECOM na cidade. A possibilidade que não se tornou uma conjugação no presente, foi resultado de uma decisão coletiva ao optar-se realizar o IV Encontro em Curitiba. Ambas as cidades-sede ofereciam as mesmas condições estruturais. Contudo, entendida uma cidade nordestina, pobre, periférica e desconhecida, o veto a proposta de Fortaleza tem raízes e motivos na discriminação regional imposta pelas escolas do Sul e Sudeste - regiões com maior densidade de escolas de comunicação.

Com o adiamento do IV ENECOM, divulgação em cima da hora e os três mil cruzeiros cobrados por cada escola, nenhum estudante cearense compareceu. Diante da situação, o Centro Acadêmico lança carta pública enviada ao Encontro onde questiona a situação e a veracidade das propostas outrora defendidas por Curitiba e relembra que a realidade em muito difere ao aprovado na Prévia de Escolha da Cidade-Sede. 


Registrando insatisfação perante o ocorrido, o recado das terras alencarinas foi um grito de autoafirmação, de identidade e de valorização de um povo que, por vezes, é escanteado das páginas que versam a história brasileira.

Se Fortaleza não viu raiar o ENECOM em 1980 para aglutinar as lutas na cidade que teima em fazer o sol nascer do mar para nos presentear com a esperança de um amanhã maior, é chegado 2016 e o Encontro mais bonito do ano - que, aqui, irradiará nosso brado de resistência!

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